domingo, 4 de maio de 2008

[Rever] Broken Flowers

 

broken_flowers

   

Título Original:
"Broken Flowers" (2005) [USA]

Realização:

Jim Jarmush

Actores:

Bill Murray - Don Johnston
Jeffrey Wright - Winston
Sharon Stone - Laura
Frances Conroy - Dora
Jessica Lange - Carmen
Tilda Swinton - Penny
Julie Delpy - Sherry

Comentário

Sou pouco conhecedor do cinema de Jim Jarmush. Dos seus trabalhos mais longínquos conheço apenas o desigual “Night on Earth” (1991), considerado o pior dos seus primeiros trabalhos. Dentro dos seus filmes mais recentes, tenho alguma dificuldade com o conceito de “Coffee and Cigarettes” (2003), mas considero interessantíssima a enorme melancolia presente em “Ghost Dog: The Way of the Samurai” (1999). Esta melancolia será o cerne da obra de Jarmush (cada vez mais tenho vontade de descobrir os seus primeiros trabalhos) e isso nota-se muito bem neste “Broken Flowers”.
E quem mais perfeito que Bill Murray para personificar essa melancolia? Sim, Jarmush escreveu o argumento a pensar nele. De facto, até admira só agora trabalharem juntos (à parte de um dos “sketches” de “Coffee and Cigarettes”). Murray, repito, é perfeito. Quero lá saber se começa a ser “typecasted” ou não, ele é perfeito neste papel de uma enorme tristeza, ajustando-se como poucos ao burlesco mais desesperado. Quem o substituiria aqui, ou nos filmes de Sofia Coppola e Wes Anderson, com os mesmos resultados?
Bill Murray é Don Johnston (delicioso nome) e começa o filme a ser abandonado pela presente namorada (Julie Delpy). Também logo no princípio, recebe uma carta anónima de uma das suas antigas namoradas – recorde-se, ele é um Casverdadeiro Don Juan – a dizer que, há muito tempo, ela teve um filho dele. Com muita insistência do seu amigo e vizinho Winston (grande Jeffrey Wright) vai partir para uma viagem pelos Estados Unidos, cujo objectivo é reencontrar as quatro mais fortes possibilidades de ter enviado a carta e, assim, encontrar o seu filho. As quatro mulheres? Sharon Stone, Frances Conroy, Jessica Lange e Tilda Swinton.
Em todos os encontros Murray “investiga” as pistas que o ajudem a descobrir a remetente da carta. Com Stone há um momento excelente envolvendo a filha e, no final, Don mostra a sua vertente irresistível. Com Conroy (mais bela que nunca) descobre a ex-hippie transformada na mulher de meia-idade, casada, casa horrível no subúrbio, em resumo, infeliz. Neste episódio temos o momento mais hilariante de todo o filme – Murray a comer a cenoura do seu prato. Com Lange temos o mais fraco dos episódios, ela uma espécie de “médium” para animais. Por último, com Swinton, temos o mais ambíguo dos episódios que nos junta a Don e à sua confusão interior.
Para além de realçarem a personagem Don Johnston – afinal, o mais importante de todo o filme – esta viagem significa também o preâmbulo por uma América interior cheia de personagens derrotadas e agora sufocadas pelos “décors” onde se inserem. É a faceta de “crooner” do seu país, de Jarmush.
Tudo em “Broken Flowers” é desesperado, mas tudo é trabalhado em surdina, ao melhor nível de Jarmush – parece-me essa a grande dificuldade de muitos com este filme. Essa e o facto de não se perceber que estamos na presença de um crise de meia-idade inultrapassável. Desde o princípio, com aqueles longos e belos planos de Don na sua enorme sala de estar a gritar solidão. Nem seria preciso o final para se chegar a essa conclusão. Mas Jarmush insiste, e nós agradecemos, em oferecer-nos aquele jovem perdido e, sobretudo, aquele carro com um jovem (filho de Murray na vida real) a olhar pela janela. Depois temos aquele “travelling” à volta de Murray que faz o filme acabar exactamente onde começou, e este é o grande elogio que tenho para fazer a Jim Jarmush.

[4/5] Belo

4

2 comentários:

Nuno Guronsan disse...

Há qualquer coisa nos papéis que Murray tem feito ultimamente, que me deixam com a sensação de que a solidão também tem uma beleza que poucas vezes conseguimos apreender. Mas Murray consegue fazê-lo e é sempre um prazer vê-lo assim, só.

Abraço.

intruso disse...

É um excelente filme... revi há uns meses curiosamente.
a solidão contada numa perspectiva irónica e ambígua.

abraço