segunda-feira, 26 de maio de 2008

Divagação

Gipraia

 

Há-de flutuar uma cidade


há-de flutuar uma cidade no crepúscolo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade

 

texto – al berto

sexta-feira, 23 de maio de 2008

[Ver] A Maratona do Amor

fatboy

   

Título Original:
"Run, Fat Boy, Run" (2007) [USA / UK]

Realização:

David Schwimmer

Actores:

Simon Pegg  - Dennis 
Thandie Newton  - Libby 
Hank Azaria  - Whit 
Dylan Moran  - Gordon 
Matthew Fenton  - Jake 
Harish Patel  - Mr. Goshdashtidar 

Comentário

A estreia de David Schwimmer na realização cinematográfica , depois de uma prolongada exposição, quer como actor, quer como realizador, na desgastada série americana Friends, era aguardada por muito boa gente.

Ainda para mais quando se soube que contava com a participação como actor e autor do argumento do actor britânico de culto, Simon Pegg.

E o resultado é no entanto uma lástima, e o que mais surpreende é o facto de ser uma lástima acima de tudo no argumento, logo onde parecia termos mais a esperar.

De facto, a idiotice deste argumento de Simon Pegg chega a ser ofensiva, e não estamos a falar da idiotice kitsch do anterior argumento de Pegg para cinema, o interessante “Hot Fuzz”, mais, se compararmos com as coisas que este senhor escreveu em “Spaced” ou “Big Train”, chegamos mesmo a duvidar se este “Run Fat Boy, Run”, terá sido verdadeiramente escrito por Pegg ou se roubou um dos trabalhos caseiros do seu filho mais novo para a escola.

Passando a fase da história ridícula, passemos aos actores, aqui a desgraça continua, Pegg desta vez está num registo irreconhecível procurando agora ser uma caricatura estereotipada de um Hugh Grant com laivos de Jerry Lewis que não resulta de todo,   Hank Azzaria continua a sua saga de papeis irritantes e desprezíveis, mostrando mais uma vez que o seu talento se limita a fazer imitações vocais, o resto do elenco navega sem rumo.

Uma tentativa de fazer um filme a Farrely Brothers totalmente falhada com tudo o que de mau estes meninos costumam apresentar nas suas obras, mas sem nada de bom que estes ainda conseguem colocar nos seus filmes.

Enfim uma tremenda desilusão, e um filme que no final do seu visionamento nos deixa irritados, o problema é que estamos perante uma comédia e isso não é bom.

[1/5] Estupidamente rídiculo

hitmedo

quarta-feira, 21 de maio de 2008

E a Segunda Feira que nunca mais chega …

 

Os bilhetes fervem no bolso e a vontade dispara e o Coliseu aqui tão perto.

E a Segunda Feira que nunca mais chega…

 

 

 Cat Power – Dia 26 Coliseu.

terça-feira, 20 de maio de 2008

[Admirar] Dead Christ – Andrea Mantegna

Em Milão, na famosa Brera Pinacoteca, somos inundados por uma sensação maravilhosa de contemplação da verdadeira essência humana, o negro e a luz que caracterizam o espírito humano estão aqui tão evidentes e presentes, o deleite lado a lado com a dor.

Uma multiplicidade inesgotável de obras maravilhosamente belas abordando temas na sua maioria tenebrosos e negros, e é essa a nossa verdadeira essência, capazes de criar o belo e de cometer o atroz.

Nesta contemplação uma obra marcou, a visão de um Cristo ortodoxo numa visão mortalmente real e intimidadora. Arrepiante.

 

manh

 

Visto na  Pinacoteca Brera - Milão.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

[Rever] Cartas de Iwo Jima

Iwo Jima

   

Título Original:
"Letters from Iwo Jima" (2006) [USA / Japan]

Realização:

Clint Eastwood

Actores:

Ken Watanabe - General Tadamichi Kuribayashi
Kazunari Ninomiya - Saigo
Tsuyoshi Ihara - Baron Nishi
Ryo Kase - Shimizu
Shidou Nakamura - Lieutenant Ito

Comentário

Eastwood já nos mostrou que de facto é um dos melhores Directors da nossa época, esta segunda viagem á batalha de Iwo Jima (agora do lado sol nascente) é de facto um dos melhores filmes do antigo Dirty Harry.
O tema de Flags e deste Letters, ao contrário do que se poderia pensar, não é a guerra, mas sim o verdadeiro valor do heroísmo

Em Flags estamos perante um heróismo construído pelos media e pela máquina de propaganda do governo americano, no caso de Letters este é construído pela tradição e pela desvalorização do valor da vida humana, mas em ambos os casos o fim é o mesmo, o desperdício de sonhos e de vidas cerceadas por nada.

Tim Buckley num momento de inspiração genial escreveu o seguinte numa das suas mais belas canções:

Is the war across the sea?
Is the war behind the sky?
Have you each and all gone blind:
Is the war inside your mind?
Humans weep at human death
All the talkers lose their breath
Movies paint a chaos tale
Singers see and poets wail
All the world kows the score
But no man can find the war

É isso, a guerra cresce e acontece na mente de cada um de nós e não no mar, no ar ou na terra. Nem em Iwo Jima, nem no Vietnam, nem no Iraque, a guerra somos nós e nós somos a guerra.

No man can find the war.

[5/5] Incontornável

5

Salvador da Baía - Party Colors

 

fachada

segunda-feira, 12 de maio de 2008

[Recordar] Beirut - Nantes

 

Puro génio.

 

New York – Grey City

 

NewYork6

[Ver] Reservation Road - Traídos pelo Destino

ReservationRoad

   

Título Original:
"Reservation Road" (2007) [USA]

Realização:

Terry George

Actores:

Joaquin Phoenix  - Ethan Learner 
Mark Ruffalo  - Dwight Arno 
Jennifer Connelly  - Grace Learner 
Mira Sorvino  - Ruth Wheldon 
Elle Fanning  - Emma Learner 

Comentário

Terry George já nos habituou a filmes recheados de clichés, foi assim com o medíocre “Hotel Rwanda”, foi assim com o medíocre “In the Name of the Father” (dois dos seus mais conhecidos trabalhos) e é decididamente assim com este medíocre “Reservation Road”.

Chega a ser frustrante a previsibilidade desta abordagem a uma temática já de si direccionada para caça ao Oscar.

Os clichés pululam por este filme de uma forma demasiado abusiva e óbvia, é o “este é um mundo pequeno”, é o “eu quero confessar mas estão sempre a interromper-me”, é ainda o mais que visto “jogo do gato e do rato”, enfim navegamos constantemente no óbvio e no sensaborão, com um conjunto de actores a gritarem uns com os outros.

Os actores estão completamente enquadrados num registo obviamente maniqueísta, Phoenix chega a ser mesmo irritante num desempenho para o ecrã e não para plot, construindo um pai-fantoche totalmente surreal e (in)convincente.

[1/5] Previsivel e clichériano

hitmedo

sexta-feira, 9 de maio de 2008

[Ver] My Sassy Girl

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Título Original:
"Yeopgijeogin geunyeo" (2001) [South Korea]

Realização:

Jae-young Kwak

Actores:

Tae-hyun Cha - The Boy
Gianna Jun - The Girl

Comentário

Este “My Sassy Girl” do coreano Jae-young Kwak é mais uma daquelas situações que nos fazem desesperar, e isto porquê?

Porque infelizmente sentimos que estamos cada vez mais limitados a ver os mesmos filmes com os mesmos actores, dos mesmos realizadores e com as mesmas histórias (adaptações de casos reais, de jogos de computador, de livros, de músicas; remakes, remakes de remakes, sequelas, prequelas), enquanto isso somos cerceados da possibilidade de ver outras cinematografias, outras histórias, outras emoções, valha-nos o mercado DVD e a Internet para ao menos atenuar esta frustração.

De facto, esta comédia romântica é um daqueles filmes que nos fazem terminar a sua visualização com o sentimento de leveza no espirito, uma história recheada de humor, contada por um realizador intuitivo e extremamente talentoso.

Uma história que combina momentos hilariantes com uma subtil mas ao mesmo tempo intrigante história de amor, tudo isto entregue por uma performance brilhante e recheada de charme de dois jovens actores.

Tudo isto não mereceu uma salinha neste nosso pobre país, no entanto, concerteza que a remake americana que aí vem será vista por muita gente.

Depois queixam-se da queda de espectadores, de quem é a culpa?

[4/5] Borboletas

4

terça-feira, 6 de maio de 2008

[Ouvir] Rita RedShoes – Dream on Girl

 

Parabéns à Rita que vai actuar este ano no Festival Sudoeste, Dream on Girl :-) .

Para quem diz que em Portugal não se faz boa música abram bem esses ouvidos.

 

 

Rita MySpace http://www.myspace.com/ritaredshoes

segunda-feira, 5 de maio de 2008

[Ouvir] Ray LaMontagne - Crazy

 

Uma grande música vestida por uma voz fantástica.

Ray LaMontagne, a descobrir provavelmente por muito boa gente.

 

domingo, 4 de maio de 2008

[Rever] Broken Flowers

 

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Título Original:
"Broken Flowers" (2005) [USA]

Realização:

Jim Jarmush

Actores:

Bill Murray - Don Johnston
Jeffrey Wright - Winston
Sharon Stone - Laura
Frances Conroy - Dora
Jessica Lange - Carmen
Tilda Swinton - Penny
Julie Delpy - Sherry

Comentário

Sou pouco conhecedor do cinema de Jim Jarmush. Dos seus trabalhos mais longínquos conheço apenas o desigual “Night on Earth” (1991), considerado o pior dos seus primeiros trabalhos. Dentro dos seus filmes mais recentes, tenho alguma dificuldade com o conceito de “Coffee and Cigarettes” (2003), mas considero interessantíssima a enorme melancolia presente em “Ghost Dog: The Way of the Samurai” (1999). Esta melancolia será o cerne da obra de Jarmush (cada vez mais tenho vontade de descobrir os seus primeiros trabalhos) e isso nota-se muito bem neste “Broken Flowers”.
E quem mais perfeito que Bill Murray para personificar essa melancolia? Sim, Jarmush escreveu o argumento a pensar nele. De facto, até admira só agora trabalharem juntos (à parte de um dos “sketches” de “Coffee and Cigarettes”). Murray, repito, é perfeito. Quero lá saber se começa a ser “typecasted” ou não, ele é perfeito neste papel de uma enorme tristeza, ajustando-se como poucos ao burlesco mais desesperado. Quem o substituiria aqui, ou nos filmes de Sofia Coppola e Wes Anderson, com os mesmos resultados?
Bill Murray é Don Johnston (delicioso nome) e começa o filme a ser abandonado pela presente namorada (Julie Delpy). Também logo no princípio, recebe uma carta anónima de uma das suas antigas namoradas – recorde-se, ele é um Casverdadeiro Don Juan – a dizer que, há muito tempo, ela teve um filho dele. Com muita insistência do seu amigo e vizinho Winston (grande Jeffrey Wright) vai partir para uma viagem pelos Estados Unidos, cujo objectivo é reencontrar as quatro mais fortes possibilidades de ter enviado a carta e, assim, encontrar o seu filho. As quatro mulheres? Sharon Stone, Frances Conroy, Jessica Lange e Tilda Swinton.
Em todos os encontros Murray “investiga” as pistas que o ajudem a descobrir a remetente da carta. Com Stone há um momento excelente envolvendo a filha e, no final, Don mostra a sua vertente irresistível. Com Conroy (mais bela que nunca) descobre a ex-hippie transformada na mulher de meia-idade, casada, casa horrível no subúrbio, em resumo, infeliz. Neste episódio temos o momento mais hilariante de todo o filme – Murray a comer a cenoura do seu prato. Com Lange temos o mais fraco dos episódios, ela uma espécie de “médium” para animais. Por último, com Swinton, temos o mais ambíguo dos episódios que nos junta a Don e à sua confusão interior.
Para além de realçarem a personagem Don Johnston – afinal, o mais importante de todo o filme – esta viagem significa também o preâmbulo por uma América interior cheia de personagens derrotadas e agora sufocadas pelos “décors” onde se inserem. É a faceta de “crooner” do seu país, de Jarmush.
Tudo em “Broken Flowers” é desesperado, mas tudo é trabalhado em surdina, ao melhor nível de Jarmush – parece-me essa a grande dificuldade de muitos com este filme. Essa e o facto de não se perceber que estamos na presença de um crise de meia-idade inultrapassável. Desde o princípio, com aqueles longos e belos planos de Don na sua enorme sala de estar a gritar solidão. Nem seria preciso o final para se chegar a essa conclusão. Mas Jarmush insiste, e nós agradecemos, em oferecer-nos aquele jovem perdido e, sobretudo, aquele carro com um jovem (filho de Murray na vida real) a olhar pela janela. Depois temos aquele “travelling” à volta de Murray que faz o filme acabar exactamente onde começou, e este é o grande elogio que tenho para fazer a Jim Jarmush.

[4/5] Belo

4