segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

[Ver] 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias

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Título Original:
"4 Luni, 3 Saptamani si 2 Zile" (2007) [Romania]

Realização:

Cristian Mungiu

Actores:

Anamaria Marinca  - Otilia 
Laura Vasiliu  - Gabita 
Vlad Ivanov  - Mr. Bebe 
Alexandru Potocean  - Adi 
Luminita Gheorghiu  - Adi's Mother Gina 

Comentário 

Aqui há um tempinho vi num cinemita esconso um suposto filmezito Romeno, de nome "Occident" dirigido por um Romeno de nome Cristian Mungiu.

Quando saí da velhinha sala de cinema, só me apetecia dizer, UAUUU, tinha acabado de assistir uma das melhores comédias negras da minha vida desde o belo “American Beauty”, e ainda por cima aquilo era um filme Romeno, o que óbviamente “cocegava” o meu preconceito.

Esta nova vaga de reconhecimento do novo cinema Romeno veio no entanto reforçar a minha crença que no único país latino da Europa Oriental se tem vindo a fazer cinema de elevada qualidade, que o brilhantemente kafkiano "The Death of Mr. Lazarescu" e o deliciosamente mordaz "12:08 East of Bucharest" são dois dos exemplos mais conhecidos.

Dito isto, obviamente que estava ansioso pela estreia em Portugal do novo filme do menino Cristian Mungiu, e só posso dizer que o filme esteve à altura das minhas expectativas.

Durante quase 2 horas somos colocados na pele, não de uma mulher que vai abortar, mas inteligentemente, na pele de uma testemunha desse aborto.

E quando digo que esta transferência é inteligente, é-o na medida em que nos permite fazer qualquer coisa, nos permite falaciosamente fugir, nos permite ajudar, nos permite interrogar:

E se fosse comigo?

Ainda bem que não é.

É este subterfúgio que nos concede a decência de ser decente.

A forma como Cristian Mungiu filma, com planos prolongados, silenciosos e pouco ortodoxos reforça a crescente sensação de exploração puramente parasitária com a cena do pagamento sexual, da recriminação social hipócrita com a cena do jantar de família ou a sensação de vergonha e angustia com a cena do descarte da prova do acto vergonhoso.

Sem concessões, sem juízos de valor e com a benesse de podermos ser a outra de podermos ser humanos. Este feitiço só é quebrado com um último olhar inquisidor e recriminatório do nosso pretenso alter-ego. 

Brilhante.

[4/5]

4

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